Título original: THE HEART'S INVISIBLE FURIES,
Autor:
John Boyne
Lançamento: 06/10/2017
Editora:
Companhia das Letras
Páginas: 536.
SINOPSE:
Cyril
Avery não é um Avery de verdade ou, pelo menos, é o que seus pais adotivos lhe
dizem. E ele nunca será. Mas se não é um Avery, então quem é ele? Nascido nos
anos 1940, filho de uma jovem solteira expulsa de sua comunidade e criado por
uma família rica irlandesa, Cyril passará a vida inteira à mercê da sorte e da
coincidência, tentando descobrir de onde veio — e, ao longo de muitos anos,
lutará para encontrar uma identidade, uma casa, um país e muito mais.
Além das
incertezas de sua origem, ele tem de enfrentar outro dilema: é gay numa
sociedade que não admite sua orientação sexual. Autor do best-seller O menino
do pijama listrado, John Boyne nos apresenta à sua maior empreitada literária
até então, construindo uma saga arrebatadora sobre aceitar-se e ser aceito num
mundo que pode ser cruelmente hostil. Uma leitura necessária para os dias de
hoje, que reitera o poder do amor, da esperança e da tolerância.
RESENHA:
Meus amados, hoje venho indicar a
vocês essa obra maravilhosa “As fúrias invisíveis do coração”, do escritor John
Boyne, que também nos presenteou com o maravilhoso e devastador “O menino do
pijama listrado”. Ao ler a sinopse já me arrepiei e logo desconfiei que uma
grande experiência literária me aguardava e eu estava certa.
A história é narrada em primeira pessoa, o
que instantaneamente faz com que criemos uma ligação muito forte com o narrador.
Cyril começa a narrativa contando como sua mãe, Catherine Goggin, uma
adolescente de 16 anos, grávida foi humilhada, execrada pelo padre James Monroe
perante toda a paróquia e expulsa da comunidade, rejeitada até mesmo por seus
pais e irmãos. Considere o ano de 1945 e um vilarejo nos confins de uma Irlanda
onde o catolicismo imperava e já de início sentimos o impacto da cena
nauseante, muito bem norteada pelo autor em linguagem direta e franca:
“Muito tempo antes que descobríssemos que ele tinha dois filhos com mulheres diferentes (...), o padre James Monroe usou o altar da igreja de Nossa Senhora, Estrela do Mar, paróquia de Goleen, West Cork, para denunciar minha mãe como puta. (...)”
Catherine é jogada á própria sorte e
tendo sido expulsa da comunidade onde viveu por toda a vida é obrigada a
partir, de modo que pega suas economias e parte para Dublin em busca de
trabalho. No trem Catherine conhece Sean MacIntyre, que também está indo para
Dublin para encontrar o amigo Jack Smoot, que lhe providenciou um trabalho.É
Sean quem a ajuda a enfrentar a cidade grande, juntamente com seu Jack Smoot, os três se tornam inseparáveis e
moram em um minúsculo apartamento onde os dois rapazes dividem o quarto e sem
que Catherine desconfie mantém um relacionamento amoroso.
Manter um relacionamento homoafetivo
naquela época poderia significar uma sentença de morte, um pai preferia matar
seu próprio filho a aceitar que o mesmo fosse homossexual (seria absolvido pelo
júri por ter cometido o crime em circunstâncias extremas de ter um filho doente
mental), Catherine descobriria isso da forma mais trágica possível. Cyril nasce
em meio a luta de sua mãe para sobreviver e salvar seus amigos:
“ (...) E então ela deve ter perdido os sentidos, pois o silencio voltou a reinar na sala até o minuto seguinte, quando eu aproveitei a paz e quietude para acabar de sair, e o meu corpinho caiu no tapete imundo do apartamento do primeiro andar da Chatham Street, numa poça de sangue, placenta e muco. (...) abri os pulmões pela primeira vez e, com um poderoso bramido, que os homens no pub lá embaixo devem ter ouvido, pois subiram a escada correndo para descobrir a causa de tamanha algazarra, anunciei ao mundo que havia chegado, que havia nascido e finalmente fazia parte disto tudo(...)”
Cyril
nasceu e foi adotado pela abastada família Avery, apesar de receber toda a
assistência financeira, seus pais adotivos nunca esconderam a verdade a respeito
da adoção e deixavam bem claro que ele não era um “Avery de verdade”, que eles
não eram de fato seus pais. Mantinham um relacionamento frio e distante. Sua
mãe adotiva, escritora excêntrica, vivia em seu próprio mundo e seu pai
adotivo, no mundo dos negócios, fraudes e muitas mulheres:
“(...) eu aceitava que era apenas uma criatura viva dividindo a casa com dois adultos na maior parte do tempo alheios um ao outro. Davam-me comida, roupa e escola, e queixar-me seria mostrar um nível de ingratidão que decerto desconcertaria os dois (...)”
Cyril descobre seu interesse por
garotos muito cedo, ainda na infância conhece Julian, que se torna seu amor
platônico, objeto de fascínio e desejo. Durante mais de trinta anos de sua vida
esconde sua essência e conforma-se com encontros fugazes, com a promiscuidade,
colocando sua própria vida em risco toda vez que sai em busca da satisfação de
seus ímpetos sexuais. A vulnerabilidade emocional, o desamparo em que este
homem forte se encontra emociona demais durante todo o livro. Chega um momento
no entanto em que Cyril se dá conta de que ao não se assumir, ele está prestes
a estragar não só a sua vida, mas de uma pessoa pela qual tem muito carinho.
“Era uma época difícil para ser irlandês, ter vinte e um anos e ser um homem que sentia atração por outros homens. Ser as três coisas simultaneamente exigia um nível de subterfúgio e astúcia incompatível com a minha natureza. Eu nunca havia me considerado uma pessoa falsa, detestava me imaginar capaz de tanta mendacidade e hipocrisia, porém, quando mais examinava a arquitetura da minha vida, mais me dava conta do quanto os seus alicerces eram fraudulentos. A certeza de que passaia o resto do meu tempo na terra mentindo para as pessoas pesava muito sobre mim e, nessas ocasiões, eu pensava seriamente em acabar com a vida.” (BOYNE, 2017, p. 190).
A narrativa cobre um período de 70
anos da vida de Cyril. A trama é sensacional e de uma sensibilidade incrível. A
forma como a vida dos personagens se cruzam, mostrando os impactos que causaram
na vida um do outro é genial. Existem momentos em que coincidências improváveis
acontecem no livro, mas nada que atrapalhe ou desmereça a obra. O fato de Cyril
ter sofrido tudo o que sofreu, ter perdido muitas pessoas que amava de forma
trágica e violenta e ainda ser uma pessoa doce e não guardar mágoas é uma
verdadeira lição e certamente foi o amor que o manteve vivo.
Trata-se de uma história maravilhosa,
tocante, crua, que escancara a hipocrisia com a qual muitas vezes nos
deparamos, por exemplo, dentro da própria igreja, da própria família que
deveria acolher e amar. Uma narrativa que mostra que a intolerância, o
preconceito, a negação e a hipocrisia matam.
A leitura desta obra foi uma
verdadeira montanha russa de emoções e inúmeras reflexões.
Confesso que ao
finalizar a obra eu estava com um sorriso no rosto, apesar de toda a feiúra,
mostra que ainda há esperança, que ainda existe o amor. O amor que não tem
idade para acontecer, o amor que não tem gênero, o amor que supera tudo, o amor
que liberta, o amor que permanece. Recomendo fortemente...uma leitura para a
vida, que acalenta a alma!
Autor: JOHN BOYNE
Nasceu na
Irlanda, em 1971, e mora em Dublin. Escreveu diversos romances que já foram
traduzidos para mais de quarenta idiomas. Seu livro mais célebre, O menino do
pijama listrado (2007), lhe rendeu dois Irish Book Awards, vendeu mais de 5
milhões de exemplares pelo mundo e foi adaptado para o cinema em 2008.
Beijos e até breve!
Por
Thaisa Salvador Contato: thaisaelloa@gmail.com |
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