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"Amores Imperfeitos", o livro |
Ano: 2017
Páginas: 208
Editora: Novo Século
ISBN: 978-85-428-0968-8
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Rômulo França Pinto, o autor |
Como sempre faço, li o livro atento à história de Ônix e Pérola e, também, aos recursos estilísticos e expressivos empregados por Rômulo para compor sua obra de estreia. A rigor, um enredo de fôlego envolve, inevitavelmente, o binômio fundo/forma. O desafio de todo escritor – digno desse nome – reside na maneira como conduzirá essa questão, mantendo o equilíbrio f/f, permitindo-se experimentar formalmente ou apenas contando uma história sem correr riscos (des)necessários.
Rômulo não só conta uma bela
história de amor como ainda brinda o leitor com algumas inovações formais que,
a meu ver, valorizam o texto e o tornam interessante. Mas Amores
Imperfeitos, com perdão do trocadilho, apresenta imperfeições e êxitos.
Comecemos pelos acertos...
Primeiro, convém informar que
estamos falando de um romance erótico, da linha “pornô soft”, cujo maior
representante na atualidade é “Cinquenta tons de cinza”, de autoria da
britânica Erika Leonard James, que conta a história de Christian Grey e
Anastasia Steele. O livro – na verdade, uma trilogia – se tornou sucesso
mundial e, rapidamente, ganhou as telonas.
É claro que Amores Imperfeitos guarda alguma semelhança com o best-seller: Ônix
está para Christian, assim como Pérola para Anastasia! Ambos são profissionais
liberais bem-sucedidos. Ambas não resistem a uma aventura sexual intensa e...
sadomasoquista!
Segundo (ponto para Rômulo!), Amores Imperfeitos conseguiu me
envolver do começo ao fim, de sorte que concluí a leitura em tempo recorde, e
estou aqui compartilhando essas impressões sobre o livro. Não diria o mesmo
sobre “Cinquenta tons de cinza”, cuja leitura deixei pela metade.
Como disse, a trama orbita em
torno de Ônix e Pérola, protagonistas, Âmbar e Axinite, secundários, que são casais
que se envolvem sexual e emocionalmente falando. Mais que isso, numa espécie de
sublimação sexual-amorosa, eles superam a imanência do troca-troca e da relação
aberta, para atingir um patamar de realização amorosa quase inatingível,
transcendente, sem, contudo, abrir mão da experimentação erótica. A perfeição
das pedras preciosas, sugerida nos nomes dos personagens, sinaliza que a
realização amorosa é, sim, exequível. Os “amores imperfeitos”, vivenciados
pelos personagens, seriam uma opção ao convencionalismo de uma relação a dois.
Em vez de comodismo, uma boa pitada de atrevimento. Em vez de puritanismo, que
tal uma boa dose de sacanagem?
Como o sexo constitui ponto alto
da história, o autor presenteia o leitor com diversas cenas sexuais, por vezes
narradas com um pouco de exagero. O casal de amantes passa a tarde copulando no
motel e, à noite, em casa, se entrega ao ato sexual com a mesma disposição ou ainda
mais fogo.
Como descrever uma cena de sexo
explícito, com todos os detalhes, sem cair no grotesco ou descambar para o mau
gosto? Pois Rômulo consegue, com louvor, não uma ou duas vezes. Ele se sai bem quase sempre.
Formalmente, o autor se revela seguro
como narrador, conduzindo com competência a história, e também como usuário da
língua portuguesa. Usa e abusa do foco narrativo, seja na primeira pessoa –
passando a bola pros personagens –, seja na terceira pessoa, quando se
encarrega de narrar a trama. Esse expediente, sem dúvida, imprime leveza à
narrativa.
Poucas referências culturais,
aqui e acolá, dão um quê de sofisticação à obra, que, no entanto, carece de uma
interlocução com a temática erótica e, mesmo, sadomasoquista. Afinal, o
erotismo literário ocidental possui uma tradição respeitável que o autor,
infelizmente, ignorou em sua obra de estreia.
Algumas soluções de fundo,
movidas pela pressa ou pela boa intenção, soam gratuitas ou forçadas. A
obsessão pelo final feliz, que pode ser vista como algo positivo pelo autor e
por muitos leitores, me frustrou bastante. O mesmo vale para o apelo a soluções
fáceis, de natureza moral ou religiosa, em vez de reflexão, problematização ou
a simples provocação.
Por fim, mas não menos
importante, vai uma dica: as virtudes quase sempre fazem mal à literatura. As
boas intenções, como as soluções fáceis, também. Sucesso para você, Rômulo
França Pinto!
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Almir Zarfeg, o resenhista |
Almir Zarfeg é poeta e jornalista. Preside a Academia Teixeirense de Letras (ATL).
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