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Arte: Larissa Dutra http://duaslivreiras.blogspot.com.br/ |
Eu estava confusa, precisava de uma forma de me salvar. Quando ele apareceu no verão passado. Não pensei duas vezes, agarrei-me àquela esperança de ser salva. Eu estava perdendo minhas cores, e ele me coloriu novamente. Agora se foi. Tudo que faço e aonde vou, lembro-me dele. Tínhamos tantos sonhos, fizemos tantos planos. Este parque me lembra ele, um jogo que inventou para se livrar dos tênis que ganhara em seu aniversário.
- A gente joga o tênis e mede com a fita métrica, quem jogar mais longe
vence...
- Para que medir, Dante?
- Para saber quem jogou mais longe, Margot!
- Isso é só um jogo! Medir não é importante.
- Para mim é!
- Okay, vamos logo com isso...
Ele sempre dizia
- Li
em um livro que poemas são como pessoas, alguns você entende de primeira,
outros são inescrutáveis.
Penso que me encaixo na parte do
“inescrutável”. É tudo tão complicado... Mas parece que para ele não era.
Chorava na frente das pessoas e não tinha vergonha, demonstrava que amava seus
pais a todo momento, sabia ser cuidadoso com as pessoas, sabia ser cuidadoso
com as palavras.
Ele me amava, eu sabia disso. E eu o
amava, ele sabia disso. Como um menino tão doce, gentil e amável interessou-se
por uma menina tão amarga e triste? Éramos como o sol e a lua, o verão e o
inverno, a alegria e a tristeza. Se as pessoas fossem chuva, eu seria a garoa,
ele, o furacão. Notei que se pensasse mais neste assunto começaria a chorar e não
quero que as pessoas pensem que sou fraca e frágil.
Entro no meu carro e ligo o rádio, na
esperança de espantar aquelas lembranças. Não adiantou, a música que está
tocando é Asleep do The Smiths, a música preferida dele. Lembro-me daqueles
olhos que até hoje não sei exatamente a cor, ora verdes, ora azuis. E lembro-me
da gente indo para um lugar deserto, onde não havia nenhuma poluição luminosa
só admirar as estrelas... Como eu ainda tenho coragem de entrar nesse carro? É
tudo culpa minha! Se eu tivesse tomado mais cuidado... Minha mãe sempre diz que
me culpar e lamentar não vai trazê-lo de volta. E ela tem razão.
Depois de um longo dia, ele foi para
a minha casa, e eu disse que queria sorvete...
- Não tem sorvete aqui.
- Então eu vou comprar.
- Mas está chovendo, a estrada é perigosa!
- Não ligo.
- Me espere, vou também, não quero ficar aqui sozinho.
E, realmente, a estrada estava perigosa. Eu estava em alta velocidade, havia
um penhasco, o carro derrapou, caiu. Me machuquei muito, mas melhorei rápido.
Ele ficou uma semana no hospital, mas não resistiu. Quando recebi a notícia,
meu mundo desabou, era uma dor que não cabia dentro de mim, queria gritar até
perder a voz, mas apenas chorei, chorei como uma criança. E o que me matou foi
o olhar da mãe dele.
Sinto falta, um pedaço meu foi arrancado sem dó nem piedade. Sinto falta
de perder as discussões, de seguir as regras dos jogos que ele inventava (mesmo
achando idiota), sinto falta de rir das piadas bobas que ele fazia.
Se eu tivesse tomado mais cuidado... Lamentar não vai trazê-lo de volta.
***
Este projeto foi realizado em Ouro Verde - Minas Gerais, com idealização da professora Sandra Paula Xavier Santos Lewicki - E. E. VEREADOR LUZO FREITAS ARAÚJO.
Serão expostos uma vez por semana, três, dos seis vencedores do concurso de escrita - Conto Psicológico e Conto Social, na qual mediei uma palestra e entreguei os certificados .
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Lindo e bem escrito! Parabéns, Rafa!!! #apaixonadapelosmeusalunos
ResponderExcluirEu também - #apaixonadapelosalunosdaPaula rsrsrs
ExcluirMuito lindo! <3
ResponderExcluirSim, Sim. Beijos!
ExcluirOi Paty, que conto maravilhoso, muito bem escrito, é incrível como em poucas linhas, consegui vislumbrar a vida inteira que estes jovens viveram, a profundidade do amor deles e a dor da garota.
ResponderExcluirMuito bom!
Parabéns à Rafaela.
Bjos, flor.
Vivi
A Rafaela sabe narrar sentimento. Obrigada, Vivi!
ExcluirBeijos na alma.