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Arte: larissa Dutra http://duaslivreiras.blogspot.com.br/ |
Ainda me lembro perfeitamente da extrema
angústia que sentia em meu peito naquela noite de 15 de dezembro de 1997, em
uma banheira com água morna no quarto 230 do Hotel Valenttine. Hoje quase 20
anos depois, minha mente parece um toca fitas e as lembranças de Elizabeth Rose
são um k7, com uma música docemente depressiva.
Aqui, sentado na lanchonete da Rua Quatro,
lembro-me de como conheci Beth. Terceiro ano do colegial, primeiro dia de aula,
era pra ser mais um dia medíocre com a professora de química tentando me fazer
entender fórmulas que nunca mais usaria na minha amarga vida. Quando então, a
porta abriu e o mundo parou. Um presente de Deus vindo do Alasca, eu nem sabia
que existiam seres humanos lá, quanto mais uma escultura humana, de cabelos
ondulados, pele de pétalas de copo de leite, olhos negros como preciosas
pérolas negras e um sorriso tão radiante que derreteria toda a Antártida, como
o de Elizabeth Rose.
No intervalo, sentei-me no mesmo lugar de
sempre, lendo um livro para a aula de literatura, mais umas das odiáveis
historinhas de amor platônico; estava quase vomitando em cima das páginas, mas
em meu coração pressentia que logo iria vivenciar aquela história. Ela estava
lá, sentada do outro lado do refeitório, perdida, sem ter com quem desabafar
sobre a tristeza que foi ter que abandonar seus amigos, colégio e lugares
preferidos da antiga cidade. Tomei coragem, respirei fundo, fui falar com ela.
- Oi! Elizabeth, não é?
- Isso! Olá...Desculpe, são muitos nomes
novos para decorar...
- Júlio.
E conversamos. Aquele dia, no outro e no
outro, quando percebemos não ficávamos um dia sem nos falar. Meu pressentimento
estava errado, ela também se apaixonou. Demos nosso primeiro beijo. Éramos
namorados.
Chegou o dia da nossa formatura e como ótimos odiadores de festas que éramos
nem pisamos os pés naquele ginásio cheio de balões, confetes e polaroids de
pais orgulhosos. Fomos para Londres, ela e eu. Andamos de mãos dadas nas ruas
frias e mesmo em uma temperatura de menos cinco graus, suávamos com o calor da
nossa paixão, eu podia ver o brilho no olhar dela olhando para o céu, para as
pessoas, para o Big Ben. Eu pertencia somente à Elizabeth Rose, mas ela não
pertencia a mim, e sim ao mundo.
Fomos para o hotel. E foi um ataque tão
rápido... Quando percebi o amor da minha vida estava caída no chão, sem vida. Seus
lindos olhos negros já não brilhavam... 15 de Dezembro de 1997, em um chão
frio, no quarto 230 do Hotel Valenttine, estava a mais bela mulher, morta e eu
em uma banheira com água morna, com lágrimas nos olhos e uma dor enorme no
peito.
Hoje estou aqui na mesa da lanchonete da
Rua Quatro, com a vigésima primeira Elizabeth à minha frente. No rádio está
tocando “Don’t Speak” da banda No Doubt, era a música preferida da minha amada
Beth. Quando a música acabar, vou deixar o dinheiro em cima da mesa e sair sem
me despedir de mais uma tentativa fracassada de achar outra como minha amada. Vou
para o refeitório daquele colégio, me sentar no lugar onde conversamos pela
primeira vez, até me expulsarem de lá pela vigésima primeira vez, ou até eu dar
um ataque, como aquele que dei no dia 15 de Dezembro de 1997, quando matei
Elizabeth Rose, com a ideia de que se ela não me pertencia, também não
pertenceria ao mundo.
***
Este projeto foi realizado em Ouro Verde - Minas Gerais, com idealização da professora Sandra Paula Xavier Santos Lewicki - E. E.VEREADOR LUZO FREITAS ARAÚJO.
Foram expostos uma vez por semana, três, dos seis vencedores do concurso de escrita - Conto Psicológico e Conto Social, na qual mediei uma palestra e entreguei os certificados .
Nesta posição, forma três vencedores. Porém, apenas o de Lavínia foi exposto.
Este é o último conto a ser apresentado.
Obrigada, por todo carinho com o projeto, os contos e os autores estudantis. Cada mensagem recebida foram devidamente repassada, enchendo o corações dos escritores.
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Maravilhoso Estou muito emocionada.
ResponderExcluirParabéns Lavínia, a professora Paula e a Patrícia Brito, peli lindo projeto.
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirMaravilhoso Estou muito emocionada.
ResponderExcluirParabéns Lavínia, a professora Paula e a Patrícia Brito, peli lindo projeto.
Obrigada, querida! Por sua visita e apreciação do conto. Beijos!
ExcluirNossa! Que conto mais macabro. Muito bom! Lavínia é muito talentosa.
ResponderExcluirParabéns para estas três jovens, que seja só o começo de uma grande carreira literária e que lá, no futuro, elas possam lembrar com carinho de como tudo começou... Fico muito feliz de participar com uma pequenina parcela neste projeto tão bonito. Que mais pessoas tenham esta atitude que você teve, Paty.
Bjos minha flor!
Vivi
Obrigada, Vivi - pelo carinho com este projeto. Você abraçou, apoio este projeto, por isso faz parte dele também. E vem boas novas para 2018. Aguarde! Beijos na alma.
ExcluirUauuu!!!
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